Um título que ninguém gosta de ler, um anúncio que causa arrepios em alguns, dor em outros, e que suscita indagações em tantos outros: “quem morreu?”, “morreu de que?” ou então, “Meu Deus, mais um!”
Em Itanhém, particularmente, nos últimos anos (bota ano nisso!) a fúnebre e temerosa “Nota de Falecimento”, sempre acompanhada de uma música que nos toca e faz entender de imediato do que se trata o anúncio, tem causado outras sensações além das mais comuns nessa hora de dor e reflexão sobre o sentido da vida. Ou da morte.

Todas as vezes que a voz grave dos locutores Edivaldo Mirando ou Jan Santos anunciam a fatídica nota, mais do que saber quem morreu ou do que morreu, a pergunta que se faz é: vai enterrar onde, meu Deus?
E não é de hoje que essa pergunta ronda a cabeça de quem ouve ou sabe de mais um falecimento em nossa cidade.

O velho cemitério de Itanhém hoje é um amontoado de túmulos (ou carneiras como são popularmente conhecidas, um nome horrível por sinal) espremidos em um espaço que já não suporta mais novos sepultamentos. A enorme quantidade de cruzes e lápides se espalha por todos os cantos, com novas sepulturas feitas entre as antigas, obrigando muitas famílias a enterrar seus mortos em espaços já ocupados. Uma situação dolorosa para os entes dos falecidos. Bizarro, pra dizer o mínimo.
Além disso, devido ao curto espaço, entre os túmulos, em dias de sepultamento, muitas vezes é necessário pisar ou até mesmo passar por cima de outros jazigos para alcançar o local do enterro. Algo realmente constrangedor e, repito, bizarro.
Pra piorar a situação, com as recentes chuvas das últimas semanas, o muro do velho cemitério veio abaixo expondo ainda mais a triste situação daquele local.
Na gestão anterior foi feita a promessa de um novo cemitério. Na atual, mencionou-se a ampliação do novo, que já está no seu limite, seguida da aquisição de um terreno para a execução definitiva do projeto. No entanto, até o momento, nenhuma das iniciativas saíram do papel.
“Não é tão fácil assim”, dizem os responsáveis técnicos pela obra. Mas o tempo urge e é necessário driblar entraves burocráticos e dar celeridade ao processo. É pra ontem.
Por que, pelo visto, hoje, amanhã e depois, continuaremos a acompanhar, dia após dia, as tristes notas de falecimento, sempre acompanhadas da mesma angústia: onde será possível enterrar mais um ente querido?