Para os itanheenses – e para a maioria da galera do extremo sul da Bahia – carnaval de verdade tem que ter praia e sol. A regra é clara, como diria Arnaldo César Coelho. A programação é quase um ritual: passar a noite inteira atrás do trio, dançar até o corpo pedir arrego, beijar na boca, tomar todas, e no dia seguinte recarregar as energias na praia, continuar tomando todas e esperar o sol se pôr… para começar tudo de novo
Mas nem sempre foi assim. Na Itanhém dos anos 1960 até o início dos anos 80, praia e sol não eram necessariamente ingredientes de primeira necessidade quando se pensava em carnaval.
A era dos carnavais regados a bandas e trios tocando cinco dias seguidos nas cidades litorâneas, ainda não havia chegado. O grande barato de então era pular carnaval – termo que nem é muito usado hoje mais – nos clubes. Não havia, portanto, por que ir até Prado, Alcobaça, Mucuri e Nova Viçosa já que havia a opção de ficar por aqui mesmo curtindo os famosos bailes de carnaval (outro termo que caiu de moda).

Entre os anos 60 e 70 a diversão da garotada no carnaval era se fantasiar e ir para as ruas usando caretas geralmente feitas de cartolina. No Itanhém Social Clube (hoje Casa da Cultura) ficaram marcados os bailes comandados pela banda Os Leões, muito famosos em Itanhém na época. Ainda em 1977 um grupo de amigos improvisou um trio elétrico em cima de uma F-1000 e saíram pelas ruas da cidade. Eram eles, Jaiel Teixeira, Clauduarte Sá, Gilson Teixeira entre outros. E atrás do trio vinha o bloco Encantadores de Serpente.

Na década de 1980, Itanhém contava com dois grandes pontos de encontro para os foliões: o La Bamba, de Bacelar, e o Bar do Zé Astória, localizado na antiga Casa do Fazendeiro, na Praça da Liberdade. O espaço do Astória Bar se estendia, formando um L, até onde situava a sede do Rotary Clube e reunia um público diverso.
Enquanto crianças e adolescentes aproveitavam as matinês durante a tarde, os adultos seguiam em festa até altas horas, embalados por marchinhas e muito confete e serpentina.

Era a época pré- Axé Music. Luiz Caldas ainda não havia apresentado para o Brasil sua “Nega do cabelo duro”. O grande sucesso era “Festa do interior”, de Gal Costa. Fora isso, não ficavam de fora também os antigos sucessos de Dodô e Osmar além das clássicas “Cabeleira do Zezé”, “O teu cabelo não nega” entre outras. E uma semana antes da folia, para aquecer a galera, havia o chamado “Grito de carnaval”, que nada mais era do que um pretexto para que a festa começasse logo. Inesquecível.
Em 1984, um importante resgate cultural movimentou a cena carnavalesca de Itanhém. O antigo Itanhém Social Clube, que estava desativado desde o final da década de 1970, foi reformulado por Arnaldo Monteiro e Omar Martins. Renomeado como Recanto Tia Nenga, o espaço tornou-se palco de grandes eventos, incluindo o carnaval. O local recebeu apresentações frequentes da banda Imaginação, de Itabuna, cujo tecladista, Armstrong, já era conhecido do público itanheense por sua atuação na banda Os Leões, pioneira na cidade nos anos 1970.

Também ficou marcado nessa época o surgimento da Banda Raízes formada por Erlan Vital, Dodô (que não era o Dodô de Osmar), Mocinha, Fernando Afonso e Nêm Galego. A banda teve uma existência breve, mas marcou o carnaval de 1985.
Nos carnavais seguintes, não só Itanhém, mas outras cidades vizinhas foram, pouco a pouco, descobrindo o litoral e conhecendo o som de um Trio Elétrico de verdade, daqueles gigantes sobre carretas.
E assim, os bailes de carnaval, as caretas, o confete e a serpentina ficaram definitivamente guardados na lembrança de quem um dia pulou carnaval.
Amei a sua publicação! Me trouxe boas lembranças do período citado! Saudades daquele tempo!