Já virou praxe. Mais que isso, um protocolo. Muito mais ainda, uma lei. Respeitada ao pé da letra como nenhuma outra com o devido zelo e respeito.
Não há parágrafo, artigo ou inciso que seja levado tão à sério; nenhuma alínea que não seja entendida e aplicada de maneira tão implacável e firme, sem a menor necessidade de apelações ou busca por brechas e “jeitinhos” que só os bons advogados conseguem.
Nenhum dos dez mandamentos é seguido com tanto afinco e devoção. Nem as Leis de Newton juntas são tão cultuadas e cultivadas.
Sua aplicação se dá religiosamente, de quatro em quatro anos, pela grande maioria dos prefeitos em fim de mandato após não se reelegerem.
Como diria o Juiz (de futebol e não eleitoral) Arnaldo César Coelho, a regra é clara: após a perda a eleição, cabe ao atual gestor fechar a torneira, apagar luz e deixar o povo à míngua por três intermináveis meses esperando a posse do novo gestor. Que, diga-se de passagem, também estará sujeito a seguir o mesmo modus operandi. O mesmo artigo extraordinário da Lei Eleitoral, que obviamente só existe na cabeça de certos (diria muitos) políticos e que parece dizer:
“Fica estabelecido de acordo com o art. parará parará, da Constituição Federal que, caso não seja reeleito, o mandatário derrotado nas urnas fica obrigado a:
Art. Primeiro: demitir o máximo de pessoas possível exceto, obviamente, a si mesmo, a primeira-dama, a segunda (caso haja) e os apadrinhados de sempre: puxa-sacos, parentes, aderentes etc.
Art. Segundo: fechar postos de saúde ficando proibido a quem quer que seja adoecer até 31 de dezembro sendo permitido no máximo um resfriadozinho que qualquer chá de limão com mel e alcatrão resolvem.
Art. Terceiro: limitar serviços essenciais como coleta de lixo, entulho e conservação das ruas.
PARÁGRAFO ÚNICO – Nesse caso recomenda-se ao mandatário justificar o crescimento do mato no meio da rua como uma espécie de decoração ecológica e exótica para o Natal”.
O fato é que, num país onde impera a impunidade e consegue-se burlar até a Lei da Gravidade, ver uma lei ser respeitada e seguida assim com tanta devoção dá um orgulho danado de ser brasileiro.